Carta do "L"

William Douglas

Caro William,

Meu nome é L., tenho 31 anos e sou de (XXX). Adquiri o teu livro "Guia de aprovação em provas e concursos" e já estou terminando a segunda leitura. As orientações são preciosas e me ajudarão a aperfeiçoar o estudo. Obrigado por tê-lo escrito!

Aproveito para compartilhar - com alegria e, ao mesmo tempo, tristeza - a minha trajetória pelos concursos públicos: trabalhei desde os 18 anos na iniciativa privada, procurando me desenvolver e crescer profissionalmente. Minha segunda ocupação, com cerca de 21 anos, já foi como instrutor de cursos de (XXX), e permaneci por quase sete anos dando aulas em várias escolas. Por diversos problemas que sofri na vida - abismos existenciais, traumas, enfermidades na alma e no corpo, perda de tempo com religião etc. - acabei não me dedicando à formação universitária.

Concluí o ensino médio, e apenas cerca de (XXX) anos atrás tentei o vestibular para Filosofia na (UNIVERSIDADE PRIVADA DE PRIMEIRA LINHA) - já tinha tentado vestibulares em outros anos, mas não levei muito a sério -, tendo uma boa aprovação; ou melhor, para quem há tempos não estudava aquelas matérias, foi muito bom ter sido aprovado entre os primeiros vinte colocados. No entanto, por falta de dinheiro nem mesmo fiz a matrícula - até hoje não voltei a pensar no curso superior. Sinto-me angustiado por isso e por tantas outras pressões que a vida me impôs.

Recentemente, fui aprovado num concurso para a área estadual, e passei em ótima posição: XXº lugar. Na verdade, achei que tivesse feito uma péssima prova, e nem acompanhei os resultados. Em cima da hora, a instituição me telefonou chamando para a posse. Fiquei na dúvida se aceitava ou não, mas acabei dizendo sim. O salário é pouco menos de R$ 700,00 (oh, depressão!).

Hoje conheci o local de trabalho: é uma típica repartição pública desleixada, suja, escura, num prédio antigo, com funcionários de cenho franzido e "aura" sorumbática! Percebi que, dos aprovados para as tais dez vagas (de ensino médio), a maior parte não tomou posse. Os outros, seguramente, fizeram o concurso apenas por teste, e rejeitaram o salário medíocre e as condições de trabalho (oh, depressão!).

Não sei se fiz uma burrice ao aceitar tamanha mediocridade. O fato é que preciso daquele salário para pagar um cursinho para o concurso do XXXXXX. Também vou tentar XXXXX, XXXXX, XXXXX, e XXXX (no primeiro semestre do ano que vem) etc.

Não pretendo ficar nem seis meses nessa repartição pública. Vou fazer de tudo para sair de lá o mais rápido possível. Quero crescer. Abandonei a iniciativa privada porque, com o tempo, os salários foram diminuindo, as vagas para quem tem apenas ensino médio foram se estreitando, e a instabilidade é a norma geral nessas empresas. Quero um bom emprego, onde possa oferecer meu serviço e competência, e ter um salário inicial entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00 - que me permita pagar um bom curso superior.

Desculpe-me se escrevi demais. Torça por mim! Ou melhor, como você é um homem de fé, ore por mim, por favor! E obrigado pelo teu exemplo, pelos teus livros, pelas tuas palavras de força e ânimo!

P.S.: Caso você queira publicar esta carta na tua página, peço a gentileza de modificar os nomes, locais, datas, faculdades, cursos etc. Muito obrigado!

Um cordial abraço,

"L."

Resposta de William Douglas (entra o texto de "L", entremeado com minhas respostas)

"Caro William…"

William Douglas - Primeiramente, obrigado pelo contato e por compartilhar comigo sua história, além de autorizar a divulgação, obviamente com as exclusões necessárias para preservar a sua privacidade. Aliás, só publico histórias de leitores que, como você, me autorizam expressamente a fazer isso.

"Meu nome é L., tenho 31 anos e sou de (XXX)."

William Douglas - Muito prazer! Invejo sua idade! rsrs Eu tenho 41 anos e, de bom grado, trocaria meu cargo para ter menos dez anos de idade!

"Adquiri o teu livro "Guia de aprovação em provas e concursos" e já estou terminando a segunda leitura. As orientações são preciosas e me ajudarão a aperfeiçoar o estudo. Obrigado por tê-lo escrito!"

William Douglas - Obrigado, mas não fiz mais do que minha obrigação! Que bom que o livro te agradou e está ajudando! Quanto a tê-lo escrito, por minha formação filosófico-cristã, creio que se podemos ajudar o próximo e não o fazemos, estamos operando em erro. Além disso, ao ajudar o próximo, não só melhoramos o mundo onde nós e nossos filhos vivemos, como também atraímos para nós, multiplicado, aquilo que fizemos. A famosa "lei do retorno" - assim como a "lei da atração" e "a regra de ouro" - está presente em todas as religiões do mundo e tenho visto a aplicação na prática. Sua resposta e gratidão já são parte da recompensa por ter feito o livro.

"Aproveito para compartilhar - com alegria e, ao mesmo tempo, tristeza - a minha trajetória pelos concursos públicos."

William Douglas - Vamos lá...

"Trabalhei desde os 18 anos na iniciativa privada, procurando me desenvolver e crescer profissionalmente. Minha segunda ocupação, com cerca de 21 anos, já foi como instrutor de cursos de (XXX), e permaneci por quase sete anos dando aulas em várias escolas."

William Douglas - Então, somos colegas na profissão de professor. Um prazer!

Por diversos problemas que sofri na vida - abismos existenciais, traumas, enfermidades na alma e no corpo, perda de tempo com religião etc. - acabei não me dedicando à formação universitária.

William Douglas - Costumo responder parágrafo a parágrafo sem ler a carta toda antes, para ter a sensação de conversa. Daí, acabei de ler "religião"... e percebo que você teve experiências ruins com alguns representantes dela. Lamento. Sei o que é, também passei por uns mal-bocados! E, se somos colegas de magistério, também somos - enquanto humanos - colegas de abismos, traumas e enfermidades. Não sei quais foram as suas... mas isso tudo faz parte da grande caminhada, da grande maratona da vida. Por outro lado, só de as mencionar, você mostra que elas não conseguiram te imobilizar.

Concluí o ensino médio, e apenas cerca de (XXX) anos atrás tentei o vestibular para Filosofia na (UNIVERSIDADE PRIVADA DE PRIMEIRA LINHA) - já tinha tentado vestibulares em outros anos, mas não levei muito a sério -, tendo uma boa aprovação; ou melhor, para quem há tempos não estudava aquelas matérias, foi muito bom ter sido aprovado entre os primeiros vinte colocados. No entanto, por falta de dinheiro nem mesmo fiz a matrícula - até hoje não voltei a pensar no curso superior. Sinto-me angustiado por isso e por tantas outras pressões que a vida me impôs.

William Douglas - Estou certo, L., de que o curso superior será feito por você. Estou absolutamente certo! É só uma questão de tempo. Sabe que eu também fiz vestibular para filosofia? Cheguei a cursar um semestre... e não consegui continuar. Estava amando o curso, mas juntou com Direito, Serviço Militar etc, e não deu para finalizar. Se me permite a sugestão: mantenha o sonho dentro do peito, numa gaiola; não o deixe voar para longe. Na hora certa, após alguns degraus e fases a serem vencidas, você fará seu curso superior. Quanto às pressões, volto a dizer: elas são elementos naturais da jornada existencial; o máximo que podemos fazer é aprender a lidar com elas.

Recentemente, fui aprovado num concurso para a área estadual, e passei em ótima posição: XXXº lugar. Na verdade, achei que tivesse feito uma péssima prova, e nem acompanhei os resultados. Em cima da hora, a instituição me telefonou chamando para a posse. Fiquei na dúvida se aceitava ou não, mas acabei dizendo sim. O salário é pouco menos de R$700,00 (oh, depressão!).

William Douglas - Para começar, parabéns! Tenha certeza de que muitos gostariam de ter feito o que você fez, e estar no seu lugar agora. Para você ter aceitado, creio que analisou custos x benefícios e achou que valia a pena, mesmo com o salário baixo. Tem gente ganhando mais noutros cantos, mas sem tempo para estudar. Não sei quanto você ganhava antes, mas o mais importante agora não é nem a grana, mas as condições para preparar os novos saltos.

Hoje conheci o local de trabalho: é uma típica repartição pública desleixada, suja, escura, num prédio antigo, com funcionários de cenho franzido e "aura" sorumbática! Percebi que, dos aprovados para as tais dez vagas (de ensino médio), a maior parte não tomou posse. Os outros, seguramente, fizeram o concurso apenas por teste, e rejeitaram o salário medíocre e as condições de trabalho (oh, depressão!).

William Douglas - Camarada, pare com isso de "oh, depressão" (mesmo que seja só por brincadeira), porque que isso pega, aumenta e prejudica! O lugar descrito é triste mesmo e muito comum no país. Mas é um emprego, tem um horário definido e servirá para você usar como campo de treinamento e de levantamento de vôo para continuar estudando e subindo de vida. O que você conseguiu já é mais do que milhões e milhões têm! Você tem o sonho de muitos e deve ficar feliz por ter sonhos ainda maiores. Veja pelo lado certo:

  1. Você já conseguiu dar um passo e passar em um concurso, quando muitos nem isso fizeram, nunca passaram em nada, não têm nem os 700 reais;
  2. Isso será passageiro (um assunto que é seu, não precisa ser compartilhado na repartição);
  3. Enquanto você estiver ali, você pode ser diferente e fazer diferença. Com jeito, devagar, sem arroubos nem heroísmos, você pode fazer o lugar ser mais limpo, mais organizado, lançar modestamente sua luz sobre os móveis e pessoas, ser um funcionário simpático, sorridente, de face serena e bondosa, e colocar um pouco de aura boa no lugar. Em especial, pode fazer bem seu trabalho e tratar bem as pessoas que forem ali em busca de auxílio ou socorro.

Se a maior parte não quis tomar posse, que bom para eles! Não foi o caso.

Ontem fui numa casa de um cara milionário. Uma casa onde acho que nunca terei condições de morar. O sujeito vê o mar do Rio de Janeiro e a Barra, além das montanhas e florestas ao redor... ao mesmo tempo! A casa é um sonho, coisa de cinema! Ao ver aquilo, eduquei-me para ficar feliz pelo cara - que acho mesmo que merece estar onde está -, orei para que Deus o abençoasse ainda mais e atei-me ao fato de que aquela é a vida dele e não a minha. Devo apreciar e viver a minha vida, sem me incomodar com a dos outros, salvo quando for para ajudar ou me alegrar. Falo isso na palestra sobre "Os dez mandamentos", no Youtube e no meu livro sobre o assunto (publicado pela Thomas Nelson Brasil). Em suma, viva a sua vida e deixe os outros viverem as deles.

Acho que você devia fazer mais duas coisas (e me perdoe por dar tanto "pitaco"):

  1. Enquanto estiver ali, "faça o que pode, com o que tem, aonde você está" - sobre isso, veja o site www.revolucao.info
  2. Apesar de fazer o possível, não se esqueça que você está ali para se bancar para os próximos vôos, ok? Então, seja um bom servidor, cumpra seus deveres, mas cumpra o horário e vá estudar. Se der, estude no horário de almoço; se der, arrume coisas para fazer que exijam estudo. Aquilo é uma passagem, mas a forma como você fizer essa passagem não só a tornará mais rápida, como também marcará você e quem está ali ou precisar dos serviços dali. A forma como você age não só diz quem você é, como também desenha como você será. Veja tudo ali como desafios e professores, como lições e treinamentos. E esteja certo que um pouco de luz faz muita diferença! Quanto mais escuro o lugar, mais uma pequena chama faz efeito!

Passe por ali, mas deixe sua marca. Aliás, repare que o pessoal da instituição, apesar de tudo, te procurou para você tomar posse. Pode ser até por falta de quem queira, mas, bem ou mal, foram te buscar; estão precisando de alguém lá e você está habilitado. Aquele cargo pode ser - na sua caminhada - uma pedra para você colocar o pé e seguir adiante. De certa forma, o cargo te procurou, concorda? Chame isso de resultado do seu esforço, de destino, sorte, de ajuda divina ou de alguém trabalhando certo naquela instituição. A realidade é que te chamaram e isso te ajudou. Dê o troco: seja um bom funcionário enquanto estiver ali. Incendeie pelo menos uma pessoa que ficará ali. "Quem salva uma pessoa, salva toda a humanidade", diz o Talmude.

Não sei se fiz uma burrice ao aceitar tamanha mediocridade. O fato é que preciso daquele salário para pagar um cursinho para o concurso do XXXXXX. Também vou tentar XXXXX, XXXXX, XXXXX, e XXXX (no primeiro semestre do ano que vem) etc.

William Douglas - Ahá, eu não tinha dito? O salário vai pagar o cursinho! Camarada, não tem mediocridade nenhuma aqui! Você está seguindo o caminho, está dando as soluções possíveis e, se reparar, com toda a sujeira e "mediocridade" do cargo onde está, ele está ajudando você e é mais do que muitas pessoas possuem! Pare de ver o lado ruim! Não há mediocridade nem burrice alguma. Ao contrário, há inteligência, pois, como ensina Luiz Machado, "a grande inteligência é buscar soluções e a felicidade". Você está acima da média (mediocridade é ser "mediano"), já que está caminhando e vencendo etapas.

Seja grato pelo seu cargo atual e um bom servidor; é o mínimo a fazer para agradecer o povo, que está pagando seu cursinho. E faça sim esses concursos todos, procurando focar pelas matérias assemelhadas. Não abra nem feche demais o leque de tiros a serem dados. Estou orgulhoso de você, meu amigo L., pois as coisas estão caminhando mercê do seu esforço.

Repare que, por mais que a situação te incomode, você está fazendo o que tem que fazer: fez o concurso, tomou posse, vai trabalhar pelo dinheiro que vai pagar o cursinho... Está tudo certo, perfeito e inteligente! Mas seja um bom servidor onde está. Isso é importante também para sua alma, para seu bem-estar como homem.

Não pretendo ficar nem seis meses nessa repartição pública.

William Douglas - "A pressa e inimiga da perfeição". Sobre isso, veja meus "mantras" no site.

Vou fazer de tudo para sair de lá o mais rápido possível.

William Douglas - Ok, faça isso, mas do jeito certo! Como disse, não precisa deixar isso explícito. Para você, sair é uma decisão, uma opção e uma certeza, mas ali pode ser o melhor lugar para alguém. Deixe cada um viver sua vida... Não diga que ali é ruim, apenas torne o lugar melhor com sua passagem. Para sair rápido, trabalhe bem em todas as áreas. O livro que você já tem, mais as dicas pelo site e por aqui, vão ajudá-lo.

Quero crescer. Abandonei a iniciativa privada porque, com o tempo, os salários foram diminuindo, as vagas para quem tem apenas ensino médio foram se estreitando, e a instabilidade é a norma geral nessas empresas. Quero um bom emprego, onde possa oferecer meu serviço e competência, e ter um salário inicial entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00 - que me permita pagar um bom curso superior.

William Douglas - L., seus planos são ótimos e perfeitamente realizáveis. Sonhos altos, bons, factíveis e com planos de execução, isso dá futuro! Quando você fizer a faculdade, os salários poderão ser de dez mil, 15 mil... até mais se você quiser! Você é jovem (a gente sempre acha que está tarde, mas não é a verdade, você tem todo o tempo que precisa. Aliás, se tivesse quarenta, também o teria). Seus planos são ótimos e você mostra ser um homem não só de palavras mas também de ação. Ótimo! Mas sua história tem mais alegria do que tristezas. Corte a tristeza, alegre-se mais! Isso ajuda.

Desculpe-me se escrevi demais.

William Douglas - Somos todos "papirões", isso é uma característica dos concurseiros (hehehehe), e dos professores, e dos sujeitos que gostam de filosofia... e dos servidores públicos também! Como você vê, eu também escrevi demais ao responder. Que nossa semelhança, ao falar muito, seja também nossa fonte de recíproco perdão.

Torça por mim! Ou melhor, como você é um homem de fé, ore por mim, por favor!

William Douglas - Estou torcendo e orando. Mas, se quiser, ore também. Você também é - mesmo que não perceba - um homem de fé! Ir para um lugar "desleixado, sujo, escuro, com funcionários de cenho franzido e "aura" sorumbática!", para ter como melhorar de vida em seguida, é um gesto de fé! Torne o lugar mais luminoso, mas repare que você age com fé. Quanto à fé em Deus, bem, pedir para orar já mostra alguma fé. Você - se quiser - também pode trabalhar isso.

E obrigado pelo teu exemplo, pelos teus livros, pelas tuas palavras de força e ânimo!

William Douglas - De nada! Como já foi dito pelo poeta: "estamos todos na sarjeta, mas alguns estão olhando as estrelas". Olhemo-las.

P.S.: Caso você queira publicar esta carta na tua página, peço a gentileza de modificar os nomes, locais, datas, faculdades, cursos etc. Muito obrigado!

William Douglas - Ok, meu caro amigo! Obrigado por me permitir compartilhar seus dilemas, que já foram os meus e que são muito comuns. Como você viu, troquei os dados. Jamais publico cartas sem autorização; mais ainda, sem excluir/trocar dados que possam identificar a pessoa. Mais uma vez, obrigado. Força, alegria e sucesso - é o que te desejo, ao passo em que também mando meu mais forte e fraternal abraço.

Um cordial abraço,

L.

William Douglas - Outro, de colega para colega,

William Douglas

Artigos, textos e dicas de William Douglas

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