A foto é do meu filho de cinco anos. Sou apaixonado por ele. Essa "ripa faltando na cerca" não me parece feia. Ao contrário, quase todo mundo acha "bonitinho". Se fosse em uma pessoa pobre, ou idosa, ou doente, seria diferente, mas não é o caso aqui. Todo mundo - ou quase todo mundo ‒ acha lindo. E não é?
Ninguém vê um problema estético nessa situação. Todos sabem que o fenômeno é parte do processo de crescimento, da maturação do bebê em menino, em seguida, do menino em adolescente, e, depois, em homem feito.
O conhecimento prévio de que tudo é parte de um processo torna o que seria plasticamente inadequado um motivo de comemoração. "Caiu o primeiro dente do Lucas!", foi bradado pela mãe com mais entusiasmo do que se ganhássemos umas três Copas de uma só vez. Eu sorri um sorriso largo, alegre e o parabenizei como a um homem que vence uma etapa, que conclui um ciclo.
Eu já tinha vivido isso com a menina, hoje com 10 anos e já escritora. Ao contrário de mim, a falta do dente não a constrangia em nada. Ela sabia: estava crescendo. Aquele buraquinho na sequência branca era um troféu invertido: o troféu existia onde havia o nada. O nada que é o vácuo no qual o futuro vai se preencher naturalmente. Amadurecimento é isso.
Daí, eu me recordo dos concurseiros (e de outros tipos de sonhadores e construtores de novas realidades). Quantos andam se acabrunhando pelos dentes faltando? Você, por acaso? Essa é uma fase dura, é fato. Faltam coisas, nos sentimos desempregados, vazios, em dívida conosco e com outras pessoas. Feios. Tão feios quanto uma sequência de dentes onde falta unzinho, eu diria. E foi vendo o dente faltando em um sorriso largo, no banho de piscina de agora há pouco, que eu vi milhares de colegas esteticamente feios, mas portando uma estética linda ao mesmo tempo: a estética do amadurecimento.
A piscina hoje, e o tempo para tomar banho com o menino, são resultado dos dentes que me faltaram no passado, tomado entre livros e incertezas, angústias e apostilas. Como eu me sentia feio, e sem dente, e devendo algo. Apenas o amadurecimento nos concursos, a duras penas, e como pai e cristão, com deveres de brincar mais do que de escrever, me permitiram estar ali, vendo aquele buraco no sorriso franco, ingênuo, confiante, feliz.
Por isso, escrevo para você. Se está com um dente faltando, se está se sentindo assim porque está estudando, ralando, porque está demorando a passar, porque experimentou reprovações logo quando achava que tinha que ser agora ou "eu não aguento mais", então, colega, seja bem-vindo! A estética aparentemente feia do seu momento é a estética do futuro, do crescimento pessoal e, por isso mesmo, deve ser tão comemorada e compreendida quanto a estética da boca dos meninos e meninas em fase de crescimento. Com disciplina e garra, mas também com uma dose de ingenuidade, com confiança, orgulho e alegria. Apenas quem tem planos arranca seus dentes com a mesma força com que a vida tira os de "leite" para virem os "definitivos".
Eu me pergunto se você consegue ver a beleza dos dentes faltando. E posso dizer que ainda me faltam alguns. Eu ainda sou feio. Bonito eu serei outro dia, depois de amanhã, talvez. E me pergunto se você tem tido coragem de extrair o dente velho para no lugar vir o novo. Abrir mão daquilo que já não cabe na sua idade, na sua rota, na sua mesa, na sua história.
Enfim, espero que você aprenda a colocar a linha de carretel que a nossa mãe nos punha, a dar aquele nó que ela dava e a puxar o dente enquanto nos assustávamos com o novo. Sangra um pouco, e a língua fica desesperada a palmilhar o espaço em claro e a se acostumar com o novo design da boca. Um design que seria feio se não fosse tão simbólico, tão necessário.
Não sei como está seu começo de ano, mas eu realmente espero que esteja faltando pelo menos um dente, algo que você irá preencher com o futuro. Desejo um 2013 sem dente para você.
O PCI Concursos em parceria com o site www.williamdouglas.com.br,disponibiliza aqui, vários artigos, textos e dicas de William Douglas sobre "Como Passar" em concursos públicos: