O mercado de trabalho costuma usar algumas expressões interessantes. Dizem, por exemplo, que para os funcionários, em especial os executivos, trabalharem, é preciso colocar uma "cenoura" na frente deles. E, para criar "cenouras", desenvolveram várias idéias interessantes, como, stock options, bônus, participação em resultados, "algemas de ouro" etc.
Eu gosto muito da idéia da participação em resultados, mas de resto, confesso ter uma certa restrição a termos e invenções que surgem da mesma criatividade que engendrou o subprime, derivativos, empréstimos caucionados por nuvens e outros instrumentos que estão à beira de "quebrar" o sistema financeiro do planeta. Os mais sabidos estão prestes a destruir o sistema que eles mesmos entendem mais do que ninguém. De minha parte, e como ex-militar, gosto do princípio da guerra que propõe a simplicidade. Gosto de trabalho honesto, dedicação e tempo para colher o que se planta. É menos charmoso, mas quebra menos.
Vivo ouvindo falar disso, de se colocar a "cenoura" na frente da pessoa. Hoje cedo, respondendo a uma entrevista da Revista "Orientador", que trata de educação e vida profissional, o assunto voltou à baila, em uma pergunta sobre qual é o perfil de quem tem mais facilidade para obter sucesso.
Respondi, e compartilho aqui essa percepção, que tem mais chances aquele que resolve vencer por ser o que deseja ao invés de ser obrigado a isso, pressionado a isso. É mais propenso ao sucesso, e também à felicidade, aquele que tem mais desafios, sonhos e desejos do que medos, pressão e cobranças.
Infelizmente, pais, escolas e empresas ainda estão acostumados a achar, equivocadamente, que se deve colocar a pessoa com uma fogueira embaixo dela. Como já foi dito, a fogueira tem que estar no coração. Alguns pais, escolas e empresas costumam pensar que é preciso colocar uma "cenoura" para fazer o coelho correr. Eu acho que a gente tem que se preocupar primeiro com o "coelho". Se o coelho gostar de correr, vai fazer isso naturalmente.
O desejo pelo sucesso deve ser interno, o pai, o professor, o gestor público ou privado precisam aprender a acender um fogo na alma, a deixar que as pessoas façam o que é sua natureza. O fogo dará luz, os coelhos correrão. E penso ainda que uma pequena chama também tem valor, e terá tanto mais quanto maior a escuridão em torno, e que as tartarugas também têm seu lugar ao sol. E, por sinal, vencem corridas vez ou outra.
Posso dizer que eu não seria quem sou sem a ajuda de meus pais. Durante algum tempo, não sei se por erro deles ou de minha imatura percepção, me esforçava para ser um vencedor apenas para obter o amor de meus pais, achando que se não fosse o melhor não seria amado nem aceito. Felizmente, por ter facilidade para aprender, "QI" acima da média e ser determinado, consegui muitos bons resultados, entre os quais ser o primeiro colocado em vários concursos, inclusive no CPOR e no vestibular para Direito na UFF. Mas me faltava alguma coisa. Ao mesmo tempo, vi alguns amigos e pessoas próximas não conseguirem lidar com tanta pressão e cobranças. Não sei o que é pior: conseguir ser o melhor pelos motivos errados ou nem chegar lá por falta de auto-estima, estímulo e orientação.
No serviço público percebi que há poucas e mal distribuídas cenouras, na iniciativa privada descobri que as cenouras tomaram o lugar dos coelhos. Mesmo assim, há servidores públicos dedicados apenas por que têm a fogueira na alma; e empresas e executivos bem sucedidos por que gostam de correr pelos campos do mercado.
A parábola do Filho Pródigo (Lucas 15: 11 a 31) fala de um filho rebelde e indisciplinado e de um outro, comportado, trabalhador e obediente, mas que - embora ao olhar de todos bem sucedido - não era feliz. Era ressentido, amargurado e frustrado. Conheci pessoas sentadas sobre uma montanha de cenouras tomando remédios tarja preta, tristes e solitárias. Se for para ser assim, as cenouras perdem a graça.
Que nesse dia do Professor você acenda fogueiras nas almas, e ilumine vidas e o planeta; e que estimule os alunos a correrem por que gostam e não pelas cenouras; que ensine seus alunos a correr, se quiserem, ou a andar devagar, se preferirem. O melhor é a estrada, não a chegada.
Mas, antes, lembre-se: só quem está aceso pode incendiar. Podemos ser apenas um fósforo, mas precisamos ser um fósforo aceso. Lembre-se que é professor por que gosta de ensinar, e não por causa das cenouras. Mantenha seu ideal aceso, caminhando na velocidade que preferir, para iluminar o mundo.
William Douglas
Professor e Juiz Federal
O PCI Concursos em parceria com o site www.williamdouglas.com.br,disponibiliza aqui, vários artigos, textos e dicas de William Douglas sobre "Como Passar" em concursos públicos: