William Douglas, professor, juiz federal e escritor.
"Ano novo, problemas antigos", este é o tema de um artigo meu, do ano retrasado. Mais cedo ou mais tarde temos de enfrentar os fantasmas guardados no armário. Dentro dessa realidade, ano passado relembrei que "Feliz Ano Novo" não pode ser apenas um slogan, mas sim um plano, não apenas algo repetido automaticamente, mas algo a ser construído.
Meus últimos dois artigos encerraram 2007 desejando um bom ano novo, frisando que não estamos sozinhos e há muito a ser feito. Uma vida a ser aproveitada agora, e uma mais confortável ainda a ser semeada para o futuro enquanto cuidamos do nosso cotidiano.
Pois é, depois de um mês de férias, um janeiro delicioso, este é o começo "real" do ano de 2008. Este é o meu primeiro artigo e uma das promessas que me fiz foi ser o mais pontual possível na produção dessas conversas, que muito me agradam.
O ano de trabalho está começando depois do Carnaval, naturalmente, porque eu sou brasileiro... e, além de não desistir nunca, quis descansar. Proporcionei-me período de descanso e recuperação. Alerto que não fui assim sempre. Durante muito tempo não me permitia o necessário descanso, nem o imprescindível convívio familiar. E não acho que ganhei com isso. Estou certo de que poderia ter passado em concursos e terminado a maratona sem esse tipo de sacrifício. Talvez tivesse me saído até melhor. Mas isso é passado.
O William de hoje, mais maduro, aproveitou janeiro. Foi duas vezes a Angra, dormiu, produziu pouco, trabalhou menos ainda, do trabalho fiz apenas o essencial. Vi muitos filmes, estive com a mulher amada, ri. Li de tudo.
Mas a vida segue e o "show" (da própria vida) não pode parar. Além disso, eu não conseguiria viver sem produzir, trabalhar e criar. Este será um bom ano, onde lançarei a edição comemorativa dos dez anos da obra Como Passar em Provas e Concursos, além do lançamento de três novos livros, um sobre PNL para provas e concursos, pela Campus/Elsevier, um sobre Como falar bem em público e provas orais, pela Ediouro, e outro sobre Os Dez Mandamentos como manual de vida, pela Ed Thomas Nelson Brasil. Além disso, o plano é manter as carreiras de juiz federal e professor.
Parte do meu trabalho, e trabalhar é um prazer para mim, é compartilhar sobre concurso, vida, saúde, superação pessoal, realização profissional etc.
Nesse sentido, me indaguei repetidamente qual deveria ser o tema de nosso primeiro "encontro". Depois de muita vacilação, optei pelo Mágico de Oz e suas lições para concursandos, empresários e corredores.
O livro "Não sou a Mulher-Maravilha, mas Deus me fez maravilhosa! Como superar as pressões do cotidiano e aproveitar as alegrias de ser mulher" (Sheila Walsh, ed Thomas Nelson Brasil/Ediouro) é muito interessante e em seu sexto capítulo, que trata de "máscaras", o Mágico de Oz é abordado.
Logicamente, estou lendo um livro voltado para o público feminino, porque minha clientela familiar inclui uma morena de 33 e uma loira de 6 anos de idade. E, se é preciso muito estudo, leitura, observação e reflexão para entender uma morena, que dirá uma loira.
Mas falemos de O Mágico de Oz. Para quem não se lembra, "um tornado levantou a casa com Dorothy e Totó dentro, e a girou no ar. Quando a casa finalmente bateu no chão, e Dorothy abriu a porta, saiu e chegou no multicolorido, visualmente espetacular País dos Munchkins".
Dorothy quer voltar ao Kansas e para tanto vai procurar o Mágico de Oz. Nessa aventura, faz amizade com o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde.
Segundo a autora, Sheila Walsh, o aspecto mais espetacular da obra é a amizade entre a menina e os tais personagens. Em suas palavras, "através do compromisso deles para ajudar Dorothy a voltar ao Kansas, todos acabam mudando. Imaginam que, se conseguirem chegar à Cidade Esmeralda e encontrar o Grande Oz, então ele vai poder dar o que precisam. Em vez disso, é a viagem que os modifica. O Espantalho descobre que tem um cérebro quando o usa para ajudar seus amigos; o Homem de Lata descobre que é todo coração; e aquele velho Leão Covarde acha sua coragem no fim das contas. Cada um dos quatro personagens que viajam juntos pela Estrada das Pedras Amarelas é honesto e vulnerável um com o outro. Eles não escondem o que falta em sua vida."
Friso: é a viagem que os modifica.
Quando me preparei para a maratona, descobri que o que me fez bem não foi completar os 42 Km, mas o percurso pessoal, físico e emocional, para chegar lá. Foi a "caminhada" até a chegada, e não a chegada que fez diferença. Uma caminhada que começou mais de um ano antes da prova na Maratona Internacional de Curitiba/2001.
Ao ler o interessante "O segredo da Mente Milionária", ed Sextante, achei perfeito o autor dizer que o mais admirável na pessoa milionária não é sua fortuna, mas o processo pessoal de evolução que tornou a fortuna possível.
O concurso, curiosamente, exige um processo de amadurecimento extraordinário que o faz ser um desafio tão duro e tão recompensador quanto uma maratona para o corredor ou o primeiro milhão para um empreendedor. A diferença é que, embora a matéria da prova, em geral, tenha relação com o ofício, apenas a vontade pessoal do servidor público poderá fazer com que sua capacidade intelectual e emocional repercutam na vida do destinatário de seu ofício.
Mas, em todos os casos, estamos diante de um processo de amadurecimento, lento, progressivo, trabalhoso... mas muito mais rápido, agradável e reconfortante do que permanecer sem a pretendida vitória e progresso pessoal.
Chegar à cidade Esmeralda. Esse era o desafio. Lá ficava o Mágico. A cidade Esmeralda pode ser o concurso, a corrida, a empresa, a conquista do ente amado.
Costumávamos achar, como Dorothy achava, que o Mágico de Oz teria respostas e soluções. E, para isso, precisavam todos - ela, o Leão, o Homem de Lata e o Espantalho - chegar à cidade Esmeralda.
Tolo engano. Ao chegar lá, descobrem que o Mágico era um engodo. A cena é genial:
Dorothy finalmente diz:
- Oh... você é um homem muito ruim!
A resposta do Mágico é antológica, simples e mansa:
- Oh, não, minha querida - eu sou - eu sou um homem muito bom. Sou apenas um péssimo mágico. (L. Frank Baum, O Mágico de Oz).
Em suma, o Mágico não tinha respostas, e nem era um homem intrinsecamente mal. Era apenas um mágico ruim. E, apesar de o Mágico ser uma ilusão de ótica e uma "lenda urbana", mesmo assim o grupo conseguiu realizar seus desejos.
Como? No caminho e ao vencerem os desafios para chegarem à cidade Esmeralda, a resposta não estava no Mágico, mas neles mesmos. A resposta nunca esteve, nem no País de Oz nem no nosso, fora de nós mesmos. O sucesso e a felicidade estão depositados na estrada e dentro de nós.
Muitos esperam que a chegada à cidade Esmeralda (o concurso, o primeiro milhão, a linha de chegada, o casamento) proporcionará o encontro com um mágico que solucionará tudo. Não é verdade. Não existe esse tipo de mágico. A mágica é a caminhada em si. A mágica é chegar à cidade Esmeralda, e não no que está nela. A capacidade de caminhar é que faz alguém resolver seus problemas, ou ao menos administrá-los, e esse é o maior legado que o caminhante tem para continuar na estrada, mesmo depois de encontrar algum objetivo que tenha escolhido. Existem outras cidades depois da cidade Esmeralda.
Se alguém acha que será feliz ao passar, ou que terá todos os seus problemas resolvidos, está procurando o Mágico. Se alguém acha que ganhar dinheiro e ter bens vai trazer paz e alegria, também está procurando o Mágico. Se alguém acha que um corpo perfeito garante o amor ou a alegria, está caçando Mágicos.
O máximo que pode acontecer é que na caminhada aprenda que a mágica é a peregrinação. Ou, como disse João Guimarães Rosa, "vivendo se aprende; mas o que se aprende mais é só a fazer outras maiores perguntas".
Mas como fazer essa peregrinação? Bem, aprendamos com Dorothy e seus amigos.
O primeiro passo do grupo de amigos foi fazer as máscaras caírem. Dorothy confessou seu simples anseio por voltar para casa; o Leão, sua covardia; o Espantalho, sua limitação intelectual e o Homem de Lata, a falta de um coração. Não houve "máscaras".
Em seguida, eles começaram a caminhar. Ninguém ficou parado lamentando seu estado.
Creio que para progredirmos em direção aos nossos sonhos, para nossa cidade Esmeralda, o primeiro passo é nos despirmos de nossas máscaras e reconhecermos nossas limitações. Tirar a armadura orgulhosa, a roupa de festa, arregaçar nossas mangas e mergulharmos no rio barrento do trabalho diário. Não acho que a superação pessoal seja um rio de águas cristalinas: é um rio onde você tem de pisar no fundo e fazer movimento.
Se você ainda não está preparado para passar, tudo bem. Isso não faz de você má pessoa, apenas um concurseiro (momentaneamente) ruim. Mas, ao contrário do Mágico de Oz, é possível reverter esse quadro.
O Grande Oz usava mesmo uma máscara. À primeira vista, a imagem do Mágico projetada na tela diante de Dorothy é impressionante e irresistível, mas quando Totó puxa a cortina, ela vê que o Grande Oz é só um velho falando em um microfone. Não sejamos como ele. Não nos escondamos atrás de uma cortina e de um bom facho de luz reversa. Mas imitemos o Mágico ao entender que a falta de habilidade específica como mágico não o tornava necessariamente uma pessoa ruim. E nem queiramos colocar em outra pessoa ou coisa (no concurso, no dinheiro, no pai, filho, cônjuge) a terrível e intransponível tarefa de dar solução para nossos problemas. Se você deseja que outro, ou alguma coisa, faça a mágica da sua vida, o problema está em você, não no pretenso mágico.
Outros mágicos inábeis são, no concurso, o curso preparatório ou o professor: eles ajudam, mas não resolvem o problema. A fraude também se apresenta como uma solução "fácil", e como todas as soluções "fáceis", seu custo x benefício não compensa.
Na gestão financeira, os falsos "mágicos" são a busca do enriquecimento rápido, ou desonesto, o negócio "da China", a fraude etc. Igualmente, o empréstimo para gerir o orçamento mensal, o cheque especial, o rotativo do cartão de crédito, um monte de cartões de lojas, os financiamentos com juros altos mas prestações pequenininhas etc
No cuidado com o corpo, o risco é a busca de regimes miraculosos, dos remédios perigosos, dos remédios para depressão que não atingem as suas causas remotas, os anabolizantes, os comprimidos que oferecem felicidade instantânea e imediata.
Na vida pessoal, a mágica falsa é querer ser amado pelos outros antes de amar a si mesmo, ou ser amado pelo que você não é. Nesse passo, bom citar um conceito alternativo de status: "comprar o que não precisa, com um dinheiro que não tem, para parecer quem realmente não é, para agradar a quem não gosta de você".
Tudo mágica ruim, tudo feitiço que se volta contra o feiticeiro. Engodos.
Tirando as boas e más lições do Mágico, vamos aos amigos de Dorothy.
O Leão pensava ser covarde, mas sem coragem ninguém chegaria à cidade Esmeralda. É preciso coragem para começar, para continuar, para voltar depois de uma impensada desistência. E muita coragem para assumir a "carapuça" de concurseiro, o meneio de cabeça de quem não acredita nos concursos ou em você; a coragem de sentar em frente ao livro, de abrir mão do excesso de lazer ou descanso, abrir mão da Semana Santa se preciso, a coragem para fazer o quadro horário (mais dicas sobre ele, ver www.williamdouglas.com.br).
E é preciso um cérebro. Exatamente o que faltava ao Espantalho. Mas basta fazer como fez o próprio Espantalho: sem se intimidar com sua falta de "cérebro", ia caminhando, fazendo o que tinha de fazer, pensando, desconfiando de si mesmo exatamente por reconhecer que ainda não tinha o cérebro que só receberia do Mágico. O concurseiro precisa reconhecer que precisa aprender a estudar, a se organizar, a fazer provas. É preciso ser esperto para fazer isso. E também é preciso estudar todo o Programa do Edital, todas as matérias, e treiná-las. Aproveitar a internet, os livros, apostilas, professores, dicas de colegas mais experientes. E, no final, haverá um cérebro dentro do simpático Espantalho.
Por fim, como nos ensina o Homem de Lata, é preciso um coração. O coração é a motivação, a capacidade de continuar caminhando, com coragem e inteligência, mesmo quando ainda se está longe da cidade Esmeralda, mesmo diante dos reveses, mesmo diante das dúvidas que vez ou outra nos assaltam. O coração é o dínamo que catalisa e equilibra a coragem e a inteligência.
Talvez o que Dorothy tenha a nos ensinar é que, chegando à cidade Esmeralda, vamos voltar pra casa. Acho que o melhor do concurso é poder encontrar a família, bem. É ter auto-estima e exemplo para doar aos que nos são íntimos; é ter um porto seguro e estabilidade para continuar a grande jornada da vida; é ter o dinheiro suficiente para pagar as contas e alimentar os filhos. Embora o contato com a família não possa aguardar o final da história, a aprovação, é certo que após o concurso haverá mais tempo, tranqüilidade e condições financeiras para isso. E, enquanto caminhamos, é preciso aprender a curtir a família. Talvez o Totó, o cãozinho da "família", seja esse alerta para que não esperemos a aprovação para ter comunhão com quem nos é próximo. E, ainda a partir de Dorothy, que possamos encontrar nos colegas de sala não inimigos e concorrentes, mas pessoas que, como nós, têm seus motivos para ir à cidade Esmeralda. Pessoas que podem ser nossas amigas; um espaço onde possamos nos dar mutuamente auxílio para enfrentar os obstáculos e sobressaltos do caminho.
Por fim, não se esqueça das bruxas. Você mata a do Oeste e aparece a do Leste! Elas nos perseguem: o medo, a preguiça, os concursos anulados, os amigos que só querem saber de baladas e distração.
Ande com concurseiros sábios, e serás sábio. O livro de Provérbios, que já recomendei hoje, diz: "Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal." (Provérbios 13:20). O companheiro dos tolos acabará reprovado, diria o "Guru dos Concursos".
Pois é, nesse início de ano, quero lhe desejar uma bem-sucedida caminhada em direção à sua cidade Esmeralda. Não procure lá, o Mágico. Você é o mágico de sua vida. Se quiser, no céu há um mágico dos bons, que pode ajudar, mas mesmo Ele espera que cada um faça sua parte. Isso é uma dica mágica.
Desejo que você amadureça enquanto caminha.
Que curta a família que puder, nem que seja só o Totó.
Que encontre a inteligência que havia escondida no Espantalho.
A coragem não de não ter medos, mas de enfrentá-los, como acabou percebendo o corajoso Leão, e um coração alegre e motivado como o que irrigou "óleo" em todo o Homem de Lata.
São meus votos para sua caminhada.
Se não consegui lhe ajudar, na qualidade de velho concurseiro, a chegar mais perto de Esmeralda, peço que me desculpe. Se não consegui, não é que não seja um bom homem, apenas terei sido um mágico ruim.
O PCI Concursos em parceria com o site www.williamdouglas.com.br,disponibiliza aqui, vários artigos, textos e dicas de William Douglas sobre "Como Passar" em concursos públicos: