Sobre as pedras que me jogam

William Douglas

Rosi Fonseca acabou de me mandar a seguinte mensagem: "Dr. William Douglas, não permita que roubem o seu brilho e sua felicidade por mais esta conquista. Este livro, como os outros, será de grande utilidade para os que buscam o crescimento pessoal e profissional." Compartilho com os amigos a resposta que enviei a ela:

"Rosi, muito obrigado pelo carinho e pelas palavras reconfortantes. Agradeço muito. Quero tranquilizar você: estou acostumado a receber pedras. Sou cristão desde novo, e isto na época em que éramos vistos quase como uma seita, e muito discriminados. Já fui pobre, já morei no bairro pobre, sou do movimento negro, já era nerd desde uma época em que isso era motivo de chacota. Torço pelo Fluminense e atualmente não, mas isso já foi bem difícil, rs. Fui Delegado de Polícia e Defensor Público, e sou professor, três profissões honradas e maravilhosas que são pouco valorizadas (bem menos do que deveriam) e que nos permitem lidar com os maiores dramas humanos. Fui advogado, outra profissão criticada, mas sobre a qual se deposita a defesa dos direitos constitucionais sempre que violados. E sou magistrado, o cara que quando decide sempre desagrada alguém (quem perde, e às vezes até quem ganha! rs). Enfim, estou acostumado a receber críticas. Defendo minhas ideias, dou a cara a tapa pelo que acredito. Em um mundo onde as pessoas calam e se omitem, onde para serem promovidas, ou aceitas, eu não me disponho ao "politicamente correto" quando ele veicula a mediocridade ou a injustiça. Seja no concurso, seja na teologia, seja no cotidiano profissional, estou bem acostumado a ser atacado, mal interpretado etc. Até como pensador passo isso: criei a tese da legitima defesa antecipada, fui o primeiro a falar em Juizados Especiais na Justiça Federal... tudo isso objeto de críticas, algumas ácidas. Mas devo confessar: não saberia viver de outro modo, não saberia viver sem professar aquilo em que tenho fé. As pedras me darão, sempre, orgulho, se eu as receber em meu corpo por um bom motivo. E, claro, como alguém que tenta seguir o Cristo, sempre que houver um apedrejamento, meu dever religioso (e, como cidadão, professor e juiz, também meu dever cívico) é o de que eu esteja do lado certo das pedras: nunca as jogando, se possível protegendo alguém de recebê-las e, se elas estiverem vindo em minha direção, que seja não por meus pecados, mas por condutas minhas que agradem ao Pai ou que tornem o mundo mais justo.

Nesse meio todo, em que tantas pedras existem e voam, também tenho recebido plumas, leves, macias, gentis. Você me jogou algumas. Obrigado. Isso mostra um pouco de sua pessoa. Só quem tem plumas na alma pode jogá-las ao mundo. Ninguém pode dar o que não tem. Que as plumas que você me jogou sejam suas também, que amaciem seu caminho nessa estrada ‒ chamada vida ‒ cheia de pedras, mas de flores também."

Inspirado pelas críticas e elogios, quero pontuar algumas coisas que me parecem relevantes. Em momento algum me acho perfeito ou tenho a ilusão de estar certo sempre. Contudo, certo ou errado, a forma como posso contribuir para a comunidade onde me insiro (esta aldeia chamada Terra), é compartilhar a minha verdade para que ela, somada às demais, em um debate civilizado e de boa-fé, possa produzir uma obra coletiva, uma verdade comum, negociada, democrática. E, noutro caso, quando se trata da verdade bíblica que professo, não irei negociá-la. Contudo, mesmo a verdade bíblica é misteriosa, é uma verdade cuja interpretação é vária e difícil, que precisa de conversa franca para ser compreendida. A verdade da fé não pode ser negociada, mas seu conteúdo só se alcança com estudo, livros, debates, e eu quero participar deles.

Amo o cristianismo, mas não me considero proprietário dele. Neste lugar, sou empregado, não dono ou supervisor. Acho que falta aos cristãos olharem mais para as traves em seus próprios olhos do que para os ciscos alheios. E sobre minhas traves, registro que não sou perfeito, mas posso dizer, como disse Martin Luther King Jr., "Não somos o que deveríamos ser, não somos o que queríamos ser, mas, graças a Deus, não somos mais o que éramos." O cristianismo não fez de mim, ainda, um bom cristão, mas fez de mim alguém muito menos ruim do que seria sem Cristo. Jesus poupou a mim e ao mundo de um William Douglas bem pior, acreditem. Tenho certeza de que as ideias bíblicas podem poupar todos de pessoas, empresas e práticas cotidianas bem ruins para quem as pratica e também ruins para a coletividade. Quem estudar a Bíblia, creia nela ou não como livro de fé, terá que - à luz do atual estado do conhecimento humano - reconhecer que as melhores e mais avançadas ideias de Administração, carreira e negócios já estavam escritas há 2.000 anos. O mais moderno do pensamento laico está apenas confirmando o que profetas da Palestina defendiam nos desertos e pastagens de Israel.

Há ainda mais uma coisa. Informo que não vou parar de defender nem as ideias, nem Cristo, nem o Judiciário, nem a lisura nos concursos, nem o serviço público, nem o magistério, nem a igualdade de oportunidades, nem a livre iniciativa, nem o Estado que não se omite, nem empresas éticas, nem coisa alguma daquelas que estou certo que irão melhorar o mundo. Não mesmo. Se alguém me convencer de que estou errado, mudarei de lado, mas até lá, e depois disso, ainda repetirei as palavras de Luther King:

"A covardia coloca a questão: é seguro? O comodismo coloca a questão: é popular? A etiqueta coloca a questão: é elegante? Mas a consciência coloca a questão: é correto? E chega uma altura em que temos que tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas o temos de fazer porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta."

Eis aí minha posição: seguirei minha consciência, e que venham as pedras.

Entre as coisas que minha consciência me obriga está ouvir a todos, sentar à mesa mesmo com os que parecem obtusos, mesmo com os que pensam de forma diametralmente oposta à minha, mesmo com os "pecadores", e ouvi-los. Jesus foi criticado por comer com prostitutas e publicanos, e eu não sou melhor do que ele. Antes, tenho-o como modelo. Ele, por sinal, foi crucificado por aqueles que não entenderam o que ele veio dizer. Mataram-no, e também a Estevão, Pedro, Gandhi, Luther King, Malcolm X, William Tyndale, Jan Hus, Martin Niemöller, entre outros.

Enfim, meus heróis não morreram de overdose. Morreram porque suas ideias revolucionárias eram fortes demais para as pessoas que os rodeavam. Meus heróis foram a overdose, e das substâncias que eles traziam (traficavam talvez, vez que a liberdade sempre foi proibida, e pensar diferente também), me nutro e as injeto em meu sangue, todos os dias, a fim de viver no mundo de sonho e utopia que meus heróis engendraram. A mim, valeu muito a diferença que Cristo fez em minha vida, que Luther King fez na América, Gandhi, na Índia, Tyndale e Hus, na tradução da Bíblia, e assim por diante. Mandela, na África, e John Wesley, perante a escravidão e discriminação, também me valeram muito, e felizmente um está vivo e outro teve morte menos cruel. Quem mais eu poderia citar? William Wallace, por exemplo. Outro que mataram. A ignorância e a tirania vêm matando todos os meus heróis sistematicamente.

Sobre o tema, quero citar novamente Martin Niemöller, no célebre poema "E Não Sobrou Ninguém", tratando sobre o significado do Nazismo na Alemanha: "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse."

Por razões e lições como essas eu irei protestar quando quiserem, como querem, calar os juízes. Quando quiserem concursos de mentirinha, ou servidores públicos enfraquecidos; quando quiserem impor a todos a homofobia ou a teofobia; quando quiserem mudar o conceito de Estado Laico (pois laico não é o Estado que rejeita o sentimento religioso, é apenas o Estado que escolhe uma religião, seja ela a cristã, a islâmica ou o ateísmo. O Estado Laico não rejeita a fé, respeita-a). Vou protestar quando quiserem me impor a "teologia da prosperidade" ou a "teologia da miséria", dois equívocos dos mais praticados nas igrejas cristãs, tanto católica quanto evangélica, de meu país. Não é o que está escrito na Bíblia, e irei tocar nesse assunto por mais que ele incomode a uns ou a outros.

O livro "As 25 leis bíblicas do sucesso" é atacado, mas representa uma profissão de fé no modelo bíblico de comportamento no trabalho e na empresa. Estamos, eu e Rubens Teixeira, trabalhando nele há anos e seu estudo de fundo contém mais de 1.000 citações bíblicas. Foi elogiado por teólogos de linhas as mais diversas e por empresários, inclusive alguns não religiosos, por professores e consultores empresariais. Não é um trabalho superficial. O título, o prefácio, a abordagem, tudo foi escolhido para realmente abordarmos temas pouco usuais. E se já não bastasse abordar tema sob ótica incomum, também foi escrito respeitando o leitor ateu e agnóstico, focando em temas de interesse geral (para teístas e ateus) sobre os quais a Bíblia tem algo a dizer. Nesse sentido, expressa o sal e a luz que temos que ser no mundo. E expressa leis inexoráveis que aproveitam a teístas e ateus, a hindus, cristãos e agnósticos. São princípios pouco estudados e eu e Rubens Teixeira nos propusemos, mesmo apesar dos riscos, a sistematizá-los.

Para quem é cristão, vale uma observação a mais. A ideia do livro não é a de que em uma semana se vá ganhar rios de dinheiro e que isso é a coisa mais importante do que Jesus Cristo. O escopo dele é mostrar que ensinamentos que estão na Bíblia, quando aplicados na vida profissional, são bons e muitas vezes nem percebemos isso. Muitas vezes passagens bíblicas como ser prestativo, p. ex., são lidas apenas em um contexto "espiritual" e aí (falando para os cristãos) a pessoa sai, vai evangelizar, ajuda nas tarefas da igreja, mas não percebe que um detalhe de prestatividade, uma gentileza a mais no trabalho pode render boas coisas, como o aumento de salário ou a projeção que a pessoa tanto deseja, ou coisas mais importantes ainda, como o exemplo e o "sal e luz" que os cristãos devem prezar. Como já foi dito, em frase ora imputada a Santo Agostinho, ora a São Francisco de Assis: "Evangelize sempre. Se precisar, use as palavras". Seja pela evangelização, seja pela obediência, seja pelos resultados práticos, cabe ao cristão praticar o certo não apenas no espaço eclesiástico, mas no seu cotidiano. Isso, se ocorrer, será revolucionário e fará muito bem ao mundo.

Enfim, o livro traz algo muito bom, que é parar de separar "mundo espiritual" de "mundo secular" (coisa que muito cristão faz), de forma que é indicado inclusive para quem não é religioso, pois os princípios ali contidos são eficientes para toda e qualquer pessoa que deseja ter uma carreira ou empresa bem-sucedida. Quem discordar, pedimos que tenha a gentileza de dar uma lida no livro, nem que apenas em uma livraria, sem sequer precisar comprá-lo. Para criticar o que viu. Eu e Rubens estamos abertos às críticas sobre o que pensamos, não sobre o que pensam que pensamos.

Por falar em pensar, escrever é colocar o pensamento no papel. E quem pensa se arrisca, é assim que funciona. E se pensa e escreve, se arrisca mais ainda. Nós, por sinal, somos gratos a todos os que pensaram e disseram, ou escreveram, e até morreram por causa disso. Entretanto, só é livre quem pensa, pois, como ensinou Jesus, a verdade liberta. Eu e Rubens, não donos, mas servos da verdade, colocamos nossas ideias no papel. E, como disse um advogado na época da Revolução Francesa, "trazemos para a corte, numa bandeja, nossa cabeça e nossa verdade. Podereis dispor da primeira depois de ouvir a segunda."

Espero que aqueles que pedem nossas cabeças se disponham a primeiro ouvir nossa verdade, assim como nós praticamos o princípio - dos Direitos Humanos antes mesmo que democrático e republicano - de ouvir a verdade alheia antes de criticar. Mas, se o fizerem, faz parte: a Humanidade já vem lidando com a crítica surda há milênios. Mas, se em um átimo de tolerância, em um átimo mesmo que de curiosidade, quem nos critica ler o livro e nos fizer alguma crítica centrada, inteligente, coerente, lógica, fundamentada, então ficaremos profundamente gratos. Queremos aprender mais e, apesar de não vir sendo comum ultimamente, estamos bastante abertos a ouvir quem pensa diferente de nós. E aos que nos elogiam e apoiam, mais uma vez nosso muito obrigado. São plumas que nos acalentam. A todos, nossa humilde verdade. Se quiserem discuti-la, obrigado, estamos certos de que aprenderemos alguma coisa. Como sempre, estarão ao dispor nossas cabeças, mesmo o corpo inteiro. Elas sempre entram em jogo quando o assunto é defender o que se pensa, ainda mais quando se pensa o diferente.

Artigos, textos e dicas de William Douglas

O PCI Concursos em parceria com o site www.williamdouglas.com.br,disponibiliza aqui, vários artigos, textos e dicas de William Douglas sobre "Como Passar" em concursos públicos: